domingo, 22 de fevereiro de 2015

Saúde feminina, quem diria...

Quando estava na graduação (e não faz muito tempo), minhas professoras e orientadoras disseram algo assim "mesmo que você não goste de uma área da fisioterapia, estude e pratique. Quando você sair da faculdade, vai que a área que você menos se interessou é a única que surge pra trabalhar". Dito e feito. Estudando, apaixonei por cardiorrespiratória. O pulmão é lindo, o coração é maravilhoso. A fisiologia cardiorrespiratória é divina. Imagina, controlar o pH sanguíneo por meio da respiração (mecânica, mas ainda assim respiração). Pensava que ao formar, iria fazer uma pós na área ou mesmo uma residência hospitalar. Mas, a vida é um conjunto de "mas, entretanto, todavia, porém"... quem criam a aleatoriedade, o acaso, enfim, essa coisa toda. Esse tipo de pós-graduação exigira um estado financeiro que não existe ainda na minha família, portanto esse plano está no "plano" das ideias. Mas ok. Acontece que, em uma certa clínica de cuidados terapêuticos, estavam sentindo falta de uma mulher para cuidar de mulheres. Eis que nessa "brechinha" me coube! (Até porque nem sou tão grande assim). Saúde da mulher? Saúde feminina? Deuses... Sim, fiz dois semestres de estágio nessa área, e também, claro, aulas teóricas e práticas. Não foi difícil, aliás foi bem tranquilo. Mas nunca pensei que ia seguir por essa área. Não que odiasse, só... sei lá. Acho que nunca me achei mulher o suficiente (socialmente dizendo - e ironicamente também). Eu não posso falar não pra essa oportunidade. Tenho contas a pagar e muitos açaís com lente em pó pra comer. E sushis, não esqueça dos sushis. Indo pro outro lado do assunto: estava eu e meu companheiro fazendo um flyer ou banner (essas coisas de propaganda) com intuito de anunciar que na clínica teria atendimento voltado pra saúde feminina. Tínhamos que pegar uma imagem que expressasse esse cuidado. Mas se você fizer uma pesquisa no google imagens, vai achar mulheres saradas, sem rugas, magras, brancas, com a pele macia. Dei de cara já com duas coisas que odeio: clichês e essa indústria maluca da vaidade. Mas me foi questionado, como você vai atrair clientes? Atrair... que palavra perigosa. Não quero fazer algo que não sei se vai dar certo. Não concordo com esse padrão de beleza absurdo de ser magra, sem estrias, sem celulites, ou gordurinhas. Não, não consigo. Briguei e enchi o saco. Não quero essa imagem. Mas por fim, conseguimos achar uma imagem de uma mulher morena, com corpo em forma, aparentemente saudável, num fundo branco. Clichê? Sim. Mas com clichês eu posso conviver. (Logo vou publicar nas redes sociais da vida). Bom, o que é saúde feminina ou da mulher? Aliás, o que é ser mulher? Já dizia Simone Beauvoir, em uma das principais frases do movimento feminista, "não se nasce mulher, torna-se mulher". Ou seja, a mulher se forma dentro de uma cultura que define seu papel para a sociedade. Ser mãe, cuidar dos filhos, ser "feminina", se depilar, se arrumar... (Me corrijam se meu pensamento estiver errado). Acontece que, sim: existem diferenças biológicas entre homens e mulheres. Mas essas diferenças devem se tornar também sociais? Eu sei que meu corpo é preparado para gerar um filho, mas e se eu não quiser gerar uma criança? Sei que tenho pouca força física, mas isso me torna frágil? E ainda, por não ter força física, devo baixar minha cabeça e seguir do jeito que meu marido gostaria, pra que eu não apanhe? Não! Temos um papel frente a sociedade, claro. Não porque somos mulheres, mas porque somos seres humanos. Nosso papel, seja homem, mulher, transexual, gays, lésbicas, se chama respeito. Bom, porque existe a saúde da mulher? Se vocês procurarem, no SUS existe a política nacional da saúde da mulher. Não sei se conseguirei expressar corretamente, mas temos nossas razões biológicas pra termos cuidado. Câncer de mama, de colo de útero, além é claro de gravidez de risco e enfim. Por razão do grande número de mortes por essas causas, nada mais justo do que criar um plano de cuidado para mulheres. Lembrando também que existe a política nacional da saúde da criança, idoso e mais recentemente saúde do homem. Então senhoras e senhores, pra quem acha que esse negócio de feminismo visa só a mulher, vocês estão enganados. Visam a igualdade de gênero e cuidados com o homem também, por exemplo a licença paternidade, a não-obrigatoriedade do alistamento militar (mas vamos deixar isso pra outra hora). Estou querendo chegar no seguinte: mulheres precisam de cuidado. Sim. E pretendo cuidar. Quero visar a atenção a depressão, questões hormonais, ansiedade, tpm, cólicas, incontinência urinária, climatério (menopausa), e me arrisco ainda a partir pra questão da sexualidade. Emagrecimento e estética? Sim, mas com alguns poréns. Por exemplo, existe a "mulher gordinha" que é esteriótipo dela ser assim, mas que não tira a beleza de ser quem é. E existe também obesidade. Conseguem entender a diferença? Vou finalizar esse texto (que sai e volta do assunto, e nem me importo. Não é como se fosse uma coluna pra uma revista), dizendo que, sou contra a ditadura do padrão estético, sou feminista sim, meu foco - por agora - será atenção a mulher, mas não recuso a atender homens, transexuais, homossexuais, ou seja, pessoas. Pretendo ficar ryca sim e viajar muito, comer sushi e tomar açaí com leite em pó.

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